Não é só futebol! 3 lições que aprendi com o Vulcão em 2020

Uma campanha de futebol pode trazer lições de empreendedorismo

Antes de começar, olhe a posição do Poços de Caldas Futebol Clube na tabela do Campeonato Mineiro da Segunda Divisão de 2020 (clique aqui). Olhando friamente a posição do time, você vai imaginar que foi um caso de fracasso de um pequeno time que não conseguiu o acesso para uma divisão superior. Mas, se eu disser que foi exatamente o contrário, você acreditaria em mim? Para mostrar meu ponto de vista, fiz esse texto com as 3 principais lições que aprendi com essa campanha.

1) O networking salva vidas e empresas

O Poços de Caldas Futebol Clube estava inativo desde o ano de 2017 e repleto de dívidas para pagar. O clube não poderia sequer disputar qualquer campeonato porque estava com seus cadastros bloqueados na Federação Mineira de Futebol e na CBF. As últimas gestões do clube o atolaram em dívidas e jogaram o nome do clube na lama. Afinal, até o goleiro Bruno pintou por lá como “estratégia de marketing” há bem pouco tempo.

Esse texto não é para falar desses problemas antigos. Muitas dívidas ainda existem, mas há um forte trabalho para acabar com elas. O mais importante nesse momento era resgatar a imagem do clube para que ele voltasse às suas atividades.

Aí que surge a primeira grande lição: O NETWORKING salva uma empresa.

No meio do contexto de pandemia e com pouquíssimas empresas com disponibilidade para ajudar financeiramente, o trabalho para resgatar um clube se torna ainda mais complicado.

Apesar dessas dificuldades, o clube só conseguiu se estruturar, montar um time e disputar um campeonato por causa do networking do Alessandro (presidente) e do Fábio (vice-presidente). O primeiro usou toda sua rede de contato para atrair pessoas e empresas interessadas em apoiar de alguma forma o clube, ainda que através de permutas. Já o segundo, com sua vasta rede de contatos no meio futebolístico, conseguiu atrair profissionais capacitados e experientes para integrar uma equipe com uma das folhas salariais mais modestas entre os competidores.

Se o clube foi a campo, se classificou para o hexagonal final e alimentou esperanças de um acesso, isso só foi possível pelas ajudas que vieram através de uma forte rede de relacionamentos dos seus diretores. Jamais despreze sua rede de relacionamento, tanto para ajudar quanto para ser ajudado.

2) O impacto social

A frase “não é só futebol” nunca fez tanto sentido. O mundo do futebol não é feito somente de craques e estrelas milionárias. Pelo contrário, 80% dos jogadores ganham até 2 salários mínimos e apenas 2% ganham acima de 20 salários mínimos.

Essa realidade pode ser explicada por diversos fatores que não caberiam nesse texto. O que gostaria de ressaltar é o impacto social que uma empresa com propósito claro pode causar nos lugares onde atua.

O Poços de Caldas Futebol Clube é um clube popular com forte penetração nas classes sociais mais baixas da cidade. Voltar a jogar já era um motivo de satisfação para seus torcedores que manifestaram esse sentimento diversas vezes nas redes sociais.

Além disso, muitos jogadores da própria cidade tiveram sua primeira chance como jogadores profissionais. Alguns foram titulares e outros entraram no decorrer da partida, de acordo com a necessidade de cada situação. Fato é que todos tiveram oportunidades de mostrar seu potencial e alguns desses garotos já estão tendo oportunidades de continuar no clube ou seguirem novos caminhos.

Muito embora a torcida cobre desses jogadores desempenhos como de estrelas, eles vieram, quase todos, de situações muito duras e lutam arduamente para levar conquistas para suas famílias.

Essa situação ficou muito clara quando conversei com o presidente sobre qual teria sido o feedback dos jogadores sobre a experiência de jogar pelo clube. Ele me relatou duas situações muito marcantes.

A primeira de um jogador que o abraçou e chorou ao se despedir porque nunca tinha tido uma chance de trabalhar em um lugar que ele tinha sido tão bem cuidado. O clube, por falta de recursos, nunca deu mordomias para os jogadores, mas sempre tratou todos com muito respeito e deu as condições mínimas para trabalharem com dignidade. Infelizmente, isso não é tão comum como gostaríamos.

A segunda situação foi ainda mais emblemática. O presidente perguntou a um dos atletas se estava tudo certo na casa onde eles moraram enquanto estavam jogando pelo clube e pediu para ele avisar se faltasse alguma coisa. A resposta do atleta foi a seguinte: “Presidente, aqui no café tem até presunto e queijo. Quando a gente está em casa tem só um café preto e talvez um pão. Está tudo ótimo.”

Ainda que com poucos recursos, o esforço de todos foi recompensado por proporcionar uma oportunidade para esses jovens atletas e mostrar para eles que com força de vontade é possível sonhar com mais.

Nunca será somente futebol!

3) Sucesso não é o que as pessoas acham que deve ser

O último ponto é o entendimento de sucesso.

Se você olhar o copo meio vazio, verá que o time não conseguiu o acesso para a divisão superior.

Se você olhar o copo meio cheio, verá que uma empresa inativa empregou 40 novas pessoas em plena pandemia e atingiu todas as suas metas.

Quando falamos em sucesso, temos que ver qual era o planejamento inicial e se ele foi alcançado ao final da jornada.

Claro que a torcida queria título e consagração, mas o objetivo do clube era voltar a participar, dar oportunidades para atletas locais, se reestruturar e se manter sustentável para os próximos anos.

Podem parecer objetivos pequenos, mas, pelo contrário, são muito difíceis de se alcançar logo no primeiro ano e no contexto atual.

Todos esses objetivos foram alcançados. Veio até um bônus que foi a classificação para o hexagonal final!

O acesso não veio, mas o trabalho de mais de 1 ano mostrou que metas podem ser batidas com muito trabalho e dedicação. O sucesso depende do que você se propõe a fazer dentro das suas limitações e não o que os outros esperam que você faça para satisfazer seus egos.

Se você chegou até aqui, volta naquela tabela que tem o link no início do texto e analise novamente. Eram 19 times, sendo que 9 desistiram antes mesmo de iniciar o campeonato, 1 desistiu no início do campeonato e outros 3 foram eliminados ainda na primeira fase. A posição final mostra que houve sucesso e que pode ser feito mais nas próximas oportunidades. O caminho está traçado e agora é buscar novos objetivos.

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